quarta-feira, 10 de junho de 2009

3. Do Coração de Cristo, aberto na cruz, nasce um homem de coração novo


Estamos no mês de junho! Mês em que a Igreja tradicionalmente celebrar com maior afinco a veneração ao Coração de Jesus. Um dos textos mais estudados e rezados por tantos devotos é Jo19,31-37. Os símbolos evidenciados nesse pequeno trecho são próprios do evangelho de João e querem representar o que a comunidade vivia. Vamos a eles, em pormenores.
Quebrar as pernas do condenado era um costume típico dos romanos para acelerar a morte. Ao quebrar as pernas, o condenado não podia mais fazer o movimento de “subida”, pregado na cruz, para respirar. Assim, ele morria asfixiado. Mas não quebrar as pernas de Jesus é um esforço em enquadrar a tradição profética ao messias que seria morto e nenhum de seus ossos seriam quebrados (veja Ex 12,46 e Sl 34,21). Jesus, entendido como o Cordeiro imolado, deveria ser sem defeitos, como reza a tradição judaica.
Ferir o lado. Segundo Dt 21,23, todo condenado não deveria ficar pendurado à noite. Perfurar o lado é uma garantia para a morte. Mas, é claro, a comunidade joanina escreve sobre esse gesto com um simbolismo extremamente especial: é do coração aberto de Jesus que jorram sangue e água, ou seja, vida e salvação. O sangue é sinal de vida, como em Lv 1,5 e Ex 24,8, e testemunha a realidade do sacrifício do cordeiro: o sangue, pois, é sede da vida (Lv 17,11 e Dt 12,23). Posteriormente, os padres dos primeiros séculos entenderam esse gesto como simbolismos para o sacramento da eucaristia e do batismo. O que é provavelmente certo, a comunidade joanina entendeu que de Jesus nascia uma nova vida, brotada do coração de Jesus, fonte de amor.
Ao citar trechos do Antigo Testamento, a comunidade joanina quer reforçar a ideia de Jesus como o Cordeiro da nova páscoa. Jesus, segundo a tradição da comunidade de João, morreu no momento em que no Templo se imolavam os cordeiros para a páscoa dos judeus. Para a comunidade, o verdadeiro cordeiro pascal é Jesus. A segunda citação vem de Zc 12,10 que apresenta um crucificado como centro dos olhares para a conversão.
Por fim, é preciso olhar a tradição joanina dentro de todo o contexto: o evangelho apresenta, até o capítulo 12, sete sinais que pretendem provocar uma adesão ao ensinamento de Jesus. Posteriormente, no capítulo 19, o Grande Sinal é a própria morte na cruz, na qual o Filho é glorificado. É uma grande catequese joanina que mostra o amor como centralidade de tudo. Esse Grande Sinal, como mencionado, é apresentado com um coração aberto no qual jorra sangue e água. O sangue, como sabido, representa a vida, e separado do corpo, a morte, o que pode representar que a vida não deve ser para si, mas para os outros. A morte de Jesus, portanto, é doação. O discípulo amado que vê, crê e testemunha, nada mais é do que a comunidade fiel que segue o Cristo. Em momento algum do evangelho se diz que era João. A tradição, posteriormente, atribui a João, mas é bem compreendido que o “discípulo amado” são todas as pessoas que amam a Cristo e revelam esse amor no seio da comunidade de irmãos.
Pe. Dehon compreende e vive a experiência de fé da comunidade joanina e atualiza o texto: “Do Coração de Cristo nasce um homem de coração novo”: homens e mulheres que, ao contemplar o coração aberto, aceitam a missão de testemunhar esse Amor a todas as pessoas.


Fr. Ronaldo Neri,scj

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